19 de mai. de 2010

O déficit da educação bancária


Por André Borges e O absurdista

Os problemas relacionados à educação pública advém de longa data. Reclamações a respeito da condição precária do ensino promoveram desde discussões entre universitários em um blog como este até reflexões de grandes teóricos como Paulo Freire. Em "Pedagogia do oprimido", Freire trata como um dos pontos cruciais da educação brasileira a educação bancária. O ato do professor depositar uma gama de informações na mente do aluno, sem contextualizá-la com a sua realidade produz no corpo discente deficiências críticas - isto é, baixo poder de problematização dos fatos.
Logo, de acordo com Paulo Freire, a qualidade do ensino estaria intimamente vinculada ao trabalho docente. Antes, convém lembrarmos, que o aluno não é uma tábula rasa ao entrar na escola. Ele possui um determinado linguajar, uma família, um lugar onde reside - seu capital cultural (Bourdieu). Cabe ao professor lapidar estes pré-conceitos e apresentar novas idéias, tendo em vista, uma formação multicultural que prepare o aluno para a vida em sociedade. Ora pois, como alunos de licenciatura, professores e leitores de Freire, devemos nos submeter ao seguinte questionamento: como a sociedade pode exigir de nós se somos precariamente formados, mal pagos e não possuímos a infraestrutura necessária para nossos trabalhos?
Você leitor está decerto se perguntando se nos perdemos ou esquecemos do assunto educação bancária, não é mesmo? Eis que se engana. Toda esta situação degradante do trabalho docente requer um árduo esforço do profissional para se manter minimamente equilibrado em seu cargo. Por isso, não há tempo nem anseios para uma problematização, optando o professor pelo básico, o cômodo, aqui exemplificado pela educação bancária.
As consequências de um professor acomodado são: a perda de respeito pelos próprios alunos, uma didática desestimulante,uma baixa qualidade da aula entre outros. Como podemos ver neste comentário do artigo de Belmira Oliveira Bueno e Flavinês Rebolo Lapo "Professores, desencanto com a profissão e abandono do magistério":
" ... porque você não vê o professor se preparando para a aula, se empenhando em melhorar a qualidade da aula... E sabe o que eu acho mais terrível nisso tudo? É a visão que o aluno passa a ter do professor e da profissão... Ele associa o professor a um fracassado... (Fabiana, 38 anos, 11 anos como professora de rede pública)"
Diante do ciclo vicioso da má qualidade na relação professor-aluno, observamos o paradoxo existente na intenção da Constituição Federal de 1988 em garantir o direito à educação básica, o que pressupõe - até para o mais leigo em assuntos educacionais - a permanência do estudante na instituição de ensino até a sua conclusão. Entretanto, não é o que a lei garante ao indivíduo. A CF/88 só garante o acesso a educação básica e não a permanência do estudante. Esta brecha da lei da "mais democrática das constituições" amalgamada com a educação bancária fornecida em diversas institutos de ensino no país inibem a manutenção do aluno na escola, tornado-a incerta e duvidosa. Nestas condições o futuro do "país do futuro" é tenebroso.

Um comentário:

  1. nossa a questão da educação é tão complexa! envolvem fatores tanto do professor, do aluno, do sistema, da padronização, da remuneração, da infra-estrutura... mas ainda assim existem bons professores (lembro de vários, aprendizados q levo até hoje) e alunos (nem me refiro só a notas, mas às lições de vida q muitos aprendem, mesmo do mínimo que se absorve...). enfim, costumamos valorizar as grandes mudanças, mas as pequenas nem são notadas, mas existem sem dúvida

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