22 de out. de 2012

A democrata cristã

- As pessoas estão cada vez mais individualistas! 
  Onde esse mundo vai parar? 
pensou Fabíola Evangelista,
num domingo
em que saíra com seu cachorro de coleira
e focinheira para passear.





20 de out. de 2012

Os meninos dos sorrisos fáceis

Dois meninos.
Muitas figurinhas.
Sintonia, amizade, diversão.
Brincam de virar cartas.
- Tio, quem falou primeiro?
É o que perguntam a mim
a fim de descobrirem quem começa a próxima jogada.

Só me resta admirar os dois pequenos mestres.

Disputam o privilégio de virar as cartas com as duas mãos
numa batalha argumentativa de chamar atenção.
Tento me inserir no contexto
como um fã aficionado por seu ídolo, ao vê-lo em ação.
Pergunto a eles
se sabem o motivo dos números pares saírem com maior frequência do que os ímpares
numa disputa de par ou ímpar.
Quem me responde é o desprezo.
Naquele pequeno universo composto por dois espíritos desprendidos
pouco importa as ciências exatas ou o racionalismo dos "tios".

Só me resta admirar os dois pequenos mestres

Enquanto perco tempo refletindo sobre erros do passado
eles aproveitam
criando, agindo e sorrindo no tempo presente.

Por isso, vivem!
Por riso!

O futuro?
Chegará no seu tempo.
Não se preocupam.
Não pensam ainda que o tempo da diversão da tarde,
pode ser o período que faltará no futuro

Por isso, vivem!
Por riso!

19 de out. de 2012

O prisioneiro

Estou em regime semi-aberto.
No confinamento
chego cedo e
recebo cumprimentos dos fiscais com um sorriso de canto de boca.
Na refeição, o básico.
Não tenho direito a bebida.
Todavia, os comandantes e seus agregados sempre arranjam, de maneira escusa, um suco ou refrigerante.
Trabalho na prisão embaixo de um sol escaldante.
Daqueles que só o Rio de Janeiro sabe proporcionar.

Ser obrigado a ficar em um mesmo lugar por muito tempo prejudica o meu estado emocional.
Tenho vontade de me mexer,
quero pular, correr
e não mais me manter na "postura adequada" do recinto.
Mas não posso.
Subverter essa demarcação significaria não ganhar os benefícios que amenizam
                                                                                                                 [sussurro...]
                                                                                                                 (mas não cessam!)
os meus sofrimentos,
quando retorno para casa.

Numa sexta-feira à noite, exercendo meu direito de liberdade parcial,
fui para a moradia de minha mãe
que já idosa e visivelmente afetada
com todos os acontecimentos decorrentes
me recebeu com um beijo amargo e desesperançoso.
Acompanhei-a ao seu quarto e vi
uma TV de 29 polegadas com LCD e LED, ligada no famoso jornal das oito horas.
Um apresentador com feições de ator hollywoodiano noticiava que uma rebelião
estava acontecendo, naquele exato momento, na capital financeira do país.
Os presos reivindicavam melhores condições de higiene no presídio e
um tratamento mais digno dos guardas e carcereiros, principalmente nas horas de trabalho forçado.
Parei por um instante e refleti:
"O quão difícil deve ser a vida de um presidiário!"