29 de ago. de 2012

Liberdade - Carlos Marighella



Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte. 
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia importe. 
Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome. 
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome” 

Rondó da liberdade - Carlos Marighella


É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer. 
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão. 
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas. 
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento. 
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Encontros

Também conheci Dean Moriarty assim que meu pai morreu.
Diferente de Jack, o encontro se deu antes da morte fisica do velho,
um pouco depois da chegada  de Al e Park.
Foi um encontro estranho porque eu não pedi pra conhecê-lo.
Ele simplesmente apareceu
e já foi se sentindo à vontade.
Eu fui tomando suas caracteristicas e ele, as minhas.
Dean me ensinou a dizer mais "nãos".
Alertava-me sobre a prestatividade dada por mim
a quem se aproximava com o intuito de me ludibriar.
E me mostrou a importância em ser rude, ocasionalmente, para proteger meus valores. 
Ele costumava bater no meu rosto e dizer:
- Até quando você vai obedecer a tudo e a todos?
- Vai seguir à risca a vida que os outros desejam para você?
- Quando vai viver seus sonhos, seu otário?!
O hedonismo era o seu norte.
Me transformei assim, num errante
como Quixote
e usava como estrada,
minha própria utopia.
Comprei seus argumentos
e passei a repudiar os caminhos traçados pelo homem pós-moderno,
que procura o conhecimento desejando status e não como um alicerce para a transformação social.
Busca somente o papel dado
no final dos cursos estipulados
como essenciais na vida de um indivíduo bem-sucedido.

Mas algo ainda me incomodava nele.
A rebeldia sem causa de um utilitarista não me enchia os olhos.
Por isso, nos despedimos no final do verão de 2012,
mesmo com Dean inconformado com meu adeus.
Atravessei a rua e me apresentei à Marighella.

25 de ago. de 2012

Modinha




















Em tempos de exposição,
só quero uma grande repercussão
que a citação
procurada com desmazelo num site de buscas,
provoca
naquele que como eu,
não está preocupado com o saber,
Mas sim em parecer, ser
culto, erudito.
Se Machado ou Jorge Amado
fazem aniversário de morte
espero ter sorte
de mencionar alguma frase do finado
que ninguém tenha postado,
e seja assim, elogiado.
Não me dou ao trabalho de ler.
Só digito
Ctrl+C
Ctrl+V.
Pouco importa as 700 páginas de Crime e Castigo.
Não dou a mínima para Antologias poéticas
e biografias longas.
Quero o prático, o rápido
Que me dê retorno imediato.
É o suficiente
para impressionar meia dúzia.
Agora, só não me peça pra desenvolver
O assunto que comecei
Só me privo em dizer: - “Eu sei, eu sei!”
E não o que sei.

10 de ago. de 2012

Pássaro Azul - Charles Bukowski













Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito durão,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém te ver.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu derramei whisky em cima dele
e inalo fumaça de cigarros
e as putas e os empregados do bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito durão,
e digo, fica aí escondido,
quer me arruinar?
quer foder o
meu trabalho?
quer arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito esperto,
e só o deixo sair à noite
às vezes
quando todos estão dormindo.
e digo, eu sei que você está aí,
por isso
não fique triste.
Depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta pouco lá dentro,
não o deixo morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,

e você?

6 de ago. de 2012

Sr. Arkadin - Orson Welles (1955)

Sr. Arkadin promove um baile de máscaras em seu castelo na Espanha. Com o copo na mão, ele diz aos seus convidados: «Não, não vou fazer um discurso, vou propor um brinde, em estilo georgiano. Os brindes georgianos sempre são antecedidos por uma pequena estória... Eu tive um sonho. Sonhei que estava em um cemitério onde todas as lápides estavam marcadas de um modo curioso -- '1822--1826', '1930--1934', todas dessa forma, sempre com um tempo muito curto entre nascimento e a morte. No cemitério havia um homem idoso. Eu lhe perguntei como foi que ele conseguiu viver tanto tempo quando todo mundo vivia tão pouco em sua aldeia. Então ele respondeu: 'Não é que morremos cedo, é que por aqui nossas lápides não contam os anos de vida de um homem, mas apenas o período de tempo em que ele conseguiu manter uma amizade'. Um brinde à amizade».

(Último bloco do antifilme "A sociedade do espetáculo - Guy Debord")