Crônicas

 
 Invencíveis....custe o que custar.

Cada vez me preocupa mais a forma como a sociedade em geral, enxerga os filmes como "verdades absolutas". É inegável que um instrumento como o cinema nos cativa de tal forma, que temos a impressão de sermos testemunhas oculares do acontecimento. Entretanto, devemos ter o cuidado de buscar informações complementares antes de formar opinião sobre um assunto. Confesso que não sou nenhum especialista sobre História da África e Nelson Mandela, mas tendo uma pequena preocupação com a informação que me "jogam" nas telas, encontrei esse artigo de um jornal de Valencia que levanta um ponto importante sobre o filme "Invictus" e a Final da Copa do Mundo de Rugby de 1995. O jornalista encontrou uma grave denúncia na autobiografia de um chefe de segurança de Mandela e segurança do time de rugby da Nova Zelândia na Copa de 1995 (Rory Steyn), relatando a intoxicação da equipe neozeolandesa (exceto 4 atletas) às vésperas da final, supostamente a mando de Thabo M'Beki, sucessor de Mandela na presidência. Os jogadores passaram muito mal durante a madrugada e cancelaram o treino do dia seguinte. Os All Blacks que eram francos favoritos ao título contra os sulafricanos, perderam a final, e a conquista serviu para amenizar o clima de hostilidades entre negros e brancos no país africano. Clint Eastwood e John Carlin (autor do livro que inspirou Clint a fazer o filme) ignoraram o fato. A pergunta que fica: A vitória a qualquer preço é uma forma de união ou segregação social? "Unir" (coloquem muitas aspas nisso) etnias de uma região compensa a desunião entre países diferentes?

http://www.levante-emv.com/deportes/2010/02/06/invictus-envenenados/676329.html

También ayudaría el hecho de que los neozelandeses fueran envenenados en una cena, 48 horas antes de la final. Una maniobra supuestamente urdida por Thabo M'Beki, que relevó años después a Mandela en el poder. Sólo cuatro integrantes de los All Blacks, que se escaparon del Sandton Crowne Plaza para comerse unas pizzas con las que vengarse de la rgurosa dieta, se salvaron de la grave intoxicación. Así lo denunció años después en su biografía, "Un paso por detrás de Mandela" (Paperback), Rory Steyn, a quien se asignó la seguridad de la delegación kiwi. Steyn, que fue elevado posteriormente a escolta de Mandela y que en la actualidad integra el entramado de seguridad de cara al próximo mundial de fútbol, desconocía la operación, pero no le quedaron dudas cuando entró a medianoche en la habitación del doctor de Nueva Zelanda y vio a una decena de jugadores tumbados por la moqueta entre descontrolados vómitos: "Aquello parecía la escena de una película de guerra [É] No había ninguna duda de que habían sido deliberadamente envenenados", recuerda Steyn. Andrew Mehrtens, una de las figuras del equipo, estaba entre los más afectados. A la mañana siguiente, sólo cuatro jugadores bajaron a desayunar (¡bingo!, los que cenaron pizza) y el entrenamiento programado quedó suspendido.
Ni Carlin ni Eastwood hacen referencia a aquel turbio episodio.


Pedido aos profissionais de segurança
por O absurdista. (publicado em 13/08/2010) 

     Seria interessante imaginar como seria a postura de alguns políticos senão fosse possível contratar seguranças particulares. Penso que os faixas pretas de jiu-jitsu, karatê, kung-fu e os especialistas no manuseio de armas e táticas de segurança podem e devem abrir academias, trabalhar em segurança de boates, em televisões ou em campeonatos de lutas, porém não deveriam assegurar a defesa de representantes que "irrepresentam" os cidadãos .
     Quando proponho algo polêmico, ou refuto alguma "tese-senso-comum" assumo toda a responsabilidade pelos meus atos e palavras. Um médico quando comete um erro, ou diz coisas que desagradam um paciente não sai do hospital com uma escolta de protetores e armas apontadas pra todos os cantos. Por que políticos que propõe aumentos exorbitantes dos próprios salários, ou que fazem mais uma CPI terminar em pizza, ou que ratificam a aprovação automática nas escolas do Rio de Janeiro possam ter esse benefício? Acho que todo profissional desta categoria deveria recusar esses empregos por motivos morais!
     Isto não é uma ode à violência, não desejo que a população agrida os políticos. Entretanto, custo a entender porque os indivíduos que menos trabalham possuam esta comodidade e os que mais labutam vivem na intranquilidade constante. Será que eles sabem como é para um professor chamar atenção de alunos em uma escola municipal pública no Rio de Janeiro?
     O que mais me dói e ver alguns políticos se safando de questionamentos de jornalistas, que representam a voz do povo, usando este artifício. Quem nunca viu um jornalista tomando bordoadas e pontapés de seguranças por fazer aquela pergunta incômoda. Os repórteres do CQC já estão acostumados com tais investidas. E o pior! Os próprios agressores indiretamente são prejudicados com as medidas aprovadas pelos mesmos políticos.
     Imaginem a cena: aquele político que aumentou os impostos, ou dançou no Congresso ou que "relaxou e gozou" cara-a-cara com desempregados, controladores aéreos e jornalistas querendo explicações plausíveis por seus atos e falas. Saindo do Palácio do Planalto até seus carros ou suas casas com aquela pressão, aquele mal-estar que fará com que respeitem mais aqueles que os colocaram no poder.



Tive uma idéia ... não a tenho mais.
        por O absurdista (publicado em 09/08/2010)


    O mundo poderia ser dividido em blocos ideológicos.

    Não! Não quero reviver os tempos de Guerra Fria, mas pensei em um mundo onde os Estados - Nações seriam abolidos e as terras repartidas, mais ou menos iguais, entre os diferentes sistemas. Os 6 continentes teriam terras capitalistas, socialistas e anarquistas por exemplo, ficando a cargo do cidadão decidir por volta dos 20 anos de idade, em qual gostaria de viver. Não é uma boa?!
Ninguém precisaria viver forçadamente em um sistema que tenha como foco central o dinheiro e não as pessoas. Em outro caso, o camarada que goste da competição profissional, dos lucros obtidos com as transações econômicas milionárias, moraria feliz na sua respectiva região. Livre de culpa ou de críticos do sistema. O rapaz que não aprecie a interferência do Estado na sua vida, seria feliz vivendo da sua forma, sem polícia o aporrinhando ou livre de pessoas que queiram o possuir ou construir laços sólidos. É simples.
     Cada cidadão ao completar seus 25 anos, deveria ter experimentado cada sistema por pelo menos 24 horas (máximo 3 meses) para que sua escolha final seja consciente.
Pra que exércitos? Cada um escolheu o que é melhor pra si, fornecendo sentido a vida da sua maneira. Ninguém precisaria defender ou invadir territórios. Mudanças de opinião poderão acontecer mas deverão ser definitivas. O momento de experiências já passou e a necessidade de integração e ajuda social, faz com que o sistema necessite da pessoa para o seu bom funcionamento. Novas ideologias poderão ser criadas, mas precisarão de um mínimo de adeptos.
     Mas existe um problema.
    Os socialistas, mesmo que sejam 2 pessoas, conseguiriam viver dentro de sua ideologia. Dividiriam irmamente o que as terras lhe proporcionam e através da colaboração, livre de preconceitos raciais ou classistas, construiriam o necessário para a sobrevivência. Assim, como os anarquistas não dependeriam de outras pessoas de pensamentos antagônicos para seguirem sua vida.   
     Diferente dos capitalistas.
    Só há riqueza com pobreza. O poder dos grandes capitalistas se resume basicamente na exploração da grande maioria. A partir do momento que não ocorra acordo entre trabalhador e empregador capitalista, o primeiro estaria livre para escolher outro tipo de vida que sacie seus anseios. Isso atrapalharia bastante as pretensões de muitos que através da alienação e exploração das massas, constroem seus impérios. A saturação dos mercados faria com que os capitalistas buscassem novas terras, novos consumidores e novos explorados para fazer a máquina girar.
     O capitalismo não se sustenta sozinho, somente com o sofrimento e exploração da maioria.
     O capitalismo não é democrático, é arbitrário.
     O capitalismo coisifica os homens e humaniza as coisas.
     E eu achando que tive uma grande idéia ...



Golfinhos 1x0 Humanos

 
por O absurdista. (publicado em 09/08/2010)

     Os méritos desta postagem vão para os brilhantes Rômulo Coutinho e Gabriel Uriel. O primeiro por me apresentar a idéia do livro "O Guia do Mochileiro das Galáxias" que foca na busca humana do sentido da vida e o segundo, por mencionar uma vez em uma conversa informal, uma frase dita pelo autor deste mesmo livro, o britânico Douglas Adams:

É um fato importante, e conhecido por todos, que as coisas nem sempre são o que parecem ser. Por exemplo, no planeta Terra os homens sempre se consideraram mais inteligentes que os golfinhos, porque haviam criado tantas coisas – a roda, Nova York, as guerras, etc. -, enquanto os golfinhos só sabiam nadar e se divertir. Porém, os golfinhos, por sua vez, sempre se acharam muito mais inteligentes que os homens – exatamente pelos mesmos motivos.     Nesta vida absurda aceitar as próprias limitações e aproveitar o que existe de mais precioso em nossa espécie, me parecem ser as decisões mais sábias. Golfinhos 1x0 Humanos.
Dicas:
http://www.youtube.com/watch?v=xlYH-5VUXPQ&feature=player_embedded

http://www.youtube.com/watch?v=RKqTOLAKYhk&feature=related


  
Eu não quero esse sucesso

             por O absurdista. (publicado em 30/07/2010)


     Quanto você vale?

     Você mesmo, de alma e corpo, com ideais consolidados desde pequeno.
     Seria um falso moralismo dizer que é alarmante viver em uma sociedade onde os princípios são vendidos a qualquer preço, ou melhor, por 15 segundos de fama na internet?
     Você recusaria o cargo futebolístico mais disputado do mundo, somente por não pretender quebrar um acordo verbal feito com seu atual chefe?
     Mais vale mentir para si, do que lutar pelos seus valores?
     Somos passíveis de erro, é claro, mas não acham que existem erros que insistimos em cometer pois eles nos confortam?
     Ei?! Você aí! Moraria de aluguel em um quarto e sala na mais perfeita paz, com sua própria renda ou na ilusão de um mega apartamento na zona nobre de sua cidade, com tudo do bom e do melhor bancado pelos pais, que sustentam sua "vida loka"? Participaria de reality shows e programas de humor apelativo à qualquer custo, mesmo sendo alvo de humilhações e constrangimentos ou pensaria antes na importância dos seus atos na vida das pessoas que as cercam?
     É dificil obter sucesso profissional ou sentimental na sociedade de consumo em que vivemos, com um mínimo de dignidade e respeito ao "amiguinho do lado". Porém, conquistado, é muito mais saboroso.



Reflexos do individualismo contemporâneo



por O absurdista. (publicado em 21/05/2010) 
     O Renascimento e o liberalismo de Adam Smith, proposto em "A riqueza das Nações (1776)", exaltam de forma bem explícita o individualismo. Por volta dos séculos XV e XVI, os renascentistas se contrapunham ao ideal coletivista muito defendido pela Igreja, e aos senhores feudais que através dos laços de servidão, garantiam a permanência dos servos em seus domínios. Mesmo fornecendo um tratamento semi-escravo a eles, os senhores eram responsáveis pela saúde, alimentação e moradia dos servos,o que revela uma supressão de seus interesses particulares e ao mesmo tempo, a cessão de fatores básicos para a sua sobrevivência. Entretanto, com a emergência da burguesia, o livre-arbítrio é fomentado em todas as instâncias. A substituição do trabalho servil pelo contrato salarial afastou os camponeses dos meios de produção e de subsistência, retirando-os das terras e fazendo com que bancassem (agora através dos seus rendimentos) todas as condições que antes eram garantidas pelos senhores feudais. Assim, a "liberdade" estava garantida para a maior parte do povo.
Posteriormente, o "american way of life" acentuou em demasia, a demanda pelo consumo e bem-estar do indivíduo em detrimento ao bem comum. A busca da realização pessoal passa a ser a meta de muitos.
     Lendo há uns meses atrás notícias sobre a morte (e vida) de J.D. Salinger, escritor de "O apanhador no campo de centeio", pude constatar o nível tão alto de individualismo e falta de preocupação com o reflexo de nossas atitudes, na sociedade em que vivemos. Não estou falando do caráter recluso, excêntrico e egoísta de Salinger,que não é novidade para ninguém, mas de como uma das figuras mais carismáticas, importantes e famosas do planeta contribuíram para que este escritor levasse tanta melancolia e sofrimento para os outros e para si no restante de sua vida.
Você deve estar pensando (permitam-me a colocação de travessões a fim de contemplar nossa conversa telepática):
- Isso é coisa de político!Foi Roosevelt?!
- Não. Não foi Roosevelt.
- Então, deve ter sido concorrência de escritores invejosos, amigos dele. Algo do tipo?
- Digo que também não.
- Já sei. Ex-mulher! Amor não correspondido.
- Errou. Foi Chaplin, acredite.
- Ahnnnn????

     Isso mesmo caro leitor, Charles Chaplin. O homem que levou alegria para milhões de pessoas, que revolucionou os métodos cinematográficos, o poeta das imagens, o ultimo romântico, contribuiu decisivamente para que a vida de J.D.Salinger fosse cheia de tristezas e rancores.O livro "A Life Raised High", escrito por Kenneth Slawenski, biógrafo de Salinger, revela o quão foi dolorido para o escritor novaiorquino, ver a sua amada Oona O'Neil de 17 anos ser retirada de seus braços por um homem de 54 anos. Talvez a megalomania de Hitler exposta em "O grande ditador" tenha contagiado Chaplin. À medida que obtinha mais fama era mais costumeiro vê-lo achincalhando subordinados na direção de seus filmes, (vale a pena a arrogância e intrânsigência com pessoas a fim de atingir uma perfeição talvez nunca conseguida?) e sua inconstância amorosa levava Chaplin a buscar sua quarta mulher mesmo que para isso fosse necessário passar por cima dos sentimentos de um rapaz, recém incorporado ao Exército. Quem era aquele jovem de 20 poucos anos que ousava estar com a mulher que o magnânimo e incontestável cineasta gostaria de possuir naquele momento?
Margareth, filha de Salinger, descreveu seu pai na biografia "Dream Catcher" (2001) como um "egoísta absoluto". Um homem que acreditava que "levar seus filhos por duas semanas de férias para a Inglaterra era o maior sacrifício que poderia fazer". Ela sofria frequentes ataques de pânico e fez cinco abortos.
     O egoísmo de Salinger atingiu gerações posteriores de sua família e só foi iniciada por uma ânsia desenfreada de querer tudo, sempre e de qualquer forma do homem que um dia desejou paz ao mundo.



O déficit da educação bancária
                                      

    por André Borges e O absurdista (publicado em 19/05/2010)

     Os problemas relacionados à educação pública advém de longa data. Reclamações a respeito da condição precária do ensino promoveram desde discussões entre universitários em um blog como este até reflexões de grandes teóricos como Paulo Freire. Em "Pedagogia do oprimido", Freire trata como um dos pontos cruciais da educação brasileira a educação bancária. O ato do professor depositar uma gama de informações na mente do aluno, sem contextualizá-la com a sua realidade produz no corpo discente deficiências críticas - isto é, baixo poder de problematização dos fatos.
Logo, de acordo com Paulo Freire, a qualidade do ensino estaria intimamente vinculada ao trabalho docente. Antes, convém lembrarmos, que o aluno não é uma tábula rasa ao entrar na escola. Ele possui um determinado linguajar, uma família, um lugar onde reside - seu capital cultural (Bourdieu). Cabe ao professor lapidar estes pré-conceitos e apresentar novas idéias, tendo em vista, uma formação multicultural que prepare o aluno para a vida em sociedade. Ora pois, como alunos de licenciatura, professores e leitores de Freire, devemos nos submeter ao seguinte questionamento: como a sociedade pode exigir de nós se somos precariamente formados, mal pagos e não possuímos a infraestrutura necessária para nossos trabalhos?
     Você leitor está decerto se perguntando se nos perdemos ou esquecemos do assunto educação bancária, não é mesmo? Eis que se engana. Toda esta situação degradante do trabalho docente requer um árduo esforço do profissional para se manter minimamente equilibrado em seu cargo. Por isso, não há tempo nem anseios para uma problematização, optando o professor pelo básico, o cômodo, aqui exemplificado pela educação bancária.
     As consequências de um professor acomodado são: a perda de respeito pelos próprios alunos, uma didática desestimulante,uma baixa qualidade da aula entre outros. Como podemos ver neste comentário do artigo de Belmira Oliveira Bueno e Flavinês Rebolo Lapo "Professores, desencanto com a profissão e abandono do magistério":

" ... porque você não vê o professor se preparando para a aula, se empenhando em melhorar a qualidade da aula... E sabe o que eu acho mais terrível nisso tudo? É a visão que o aluno passa a ter do professor e da profissão... Ele associa o professor a um fracassado... (Fabiana, 38 anos, 11 anos como professora de rede pública)"

     Diante do ciclo vicioso da má qualidade na relação professor-aluno, observamos o paradoxo existente na intenção da Constituição Federal de 1988 em garantir o direito à educação básica, o que pressupõe - até para o mais leigo em assuntos educacionais - a permanência do estudante na instituição de ensino até a sua conclusão. Entretanto, não é o que a lei garante ao indivíduo. A CF/88 só garante o acesso a educação básica e não a permanência do estudante. Esta brecha da lei da "mais democrática das constituições" amalgamada com a educação bancária fornecida em diversas institutos de ensino no país inibem a manutenção do aluno na escola, tornado-a incerta e duvidosa. Nestas condições o futuro do "país do futuro" é tenebroso.

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