10 de nov. de 2013

To 2


1 de nov. de 2013

Livraria

Engenheiros sabidos
Constroem um lugar
que tijolos subtraídos
fazem sua estrutura
se fortificar.
Como explicar?

Se livra
o livreiro
do livro
que livra
a pessoa
de se entediar.


Cada perda material
um ganho intelectual.
Ajudando o saber
a se galvanizar.

O conhecimento
amplo e vivo
será transmitido
se a fome do cérebro
o leitor saciar.

Lei
do leitor
é,          
no    leito,          ler
        
livro,        
do
latim,               "liber".

Interior do tronco
da árvore Escrita
que ao ficar oco
se realiza.

Caro leitor,
após concluído
não cometa o pecado
de guardar o aprendido
para si, enjaulado.

O saber é passarinho
que até pia no ninho,
mas só tem beleza no canto
quando vê seu som, mundo afora,
compartilhado.                              
                   






7 de set. de 2013

Dois mundos




Quando deixaram aberta a porta que divide
o mundo literário do real,
aconteceu o surreal!
Milhares de personagens saíram procurando
novidades por todos os cantos.

A cadela Baleia empanturrou-se com a comida desperdiçada nos restaurantes granfinos de Fortaleza.
Um encontro com militantes foi o suficiente para Dorian Gray redefinir seu conceito de beleza.

Robert Langdon decidiu investigar as múmias do Congresso Nacional.
Sofia descobriu a existência de um mundo além da Filosofia ocidental.

Gregor Samsa nunca mais virou barata, pois quando a solidão apertava, o Facebook o salvava.
A Iracema nos museus retratada, não era a mesma removida mensalmente do local onde morava.

Sísifo virou professor e sentiu saudade dos tempos em que empurrava pedra para o alto de um monte.
Os meninos de "O Senhor das Moscas" se viciaram em seriados, e não perdiam um episódio de Lost.

O homem que matou Getúlio Vargas morreu de desgosto ao saber que os maiores assassinos daqui, não o fazem pessoalmente.
A piada mortal dos humoristas do Monty Python fazia Coringa ter dores abdominais, frequentemente.

Casmurro e Capitú vararam à noite lendo o site do RLi.
Holden Caulfield chorava ao ouvir no MP3 uma música famosa de Rita Lee.

Na estrada para África, Sal Paradise viu sua narrativa hipster se transformar em jornalismo denunciativo.
Ulisses não conseguiu emprego de herói, pois seu estilo épico já estava ultrapassado e cansativo.

Somente V não viu a diferença de onde veio para este cenário paralelo.
Não se sabe se pela quantidade de máscaras suas nos protestos
ou se pelo regime ditatorial vivido nos dois universos.

2 de set. de 2013

Vou morar na escuridão para iluminar teu caminho



Carinhoso idoso.
Caridoso.

Multitarefa em tensa idade.
Intensidade.

No leito,
sempre leitor.

Feliz com suas muitas capacidades.
Felicidade.


Veio uma doença que digeria sua condição ativa.
Degenerativa.
Esquecimento.
Eis que cimento.


Venceu a dor.
Vencedor.

Deixou um choro de saudade naqueles em que convivia.
Chovia.

Do alto, refletirá amor, refletor?
Ou poeira estelar viraria,
Po
     es
         ia?

7 de ago. de 2013

Família do B

                            BUÁ  
                 BEBÊ            BABAR    
          BABY                             BABÁ
              BEBER            BEABÁ        
                         BARBA



                               

Porre

ALOCO
ÁLCOOL
AO OCO
  L    
       O
U  
     C  
          O

22 de jul. de 2013

PM/MP


1 de jul. de 2013

Quantos milhões em ação? (versão reduzida)

O mais doloroso não foi notar a deturpação do movimento pela mídia global.
O mais doloroso não foi ver pessoas exigindo paz dos manifestantes e se calando diante da violência policial.
O mais doloroso não foi saber que no final do jogo o estádio gritava: "...é lindo o meu Brasil contagiando e sacudindo essa cidade".
O mais doloroso não foi saber que jogadores abraçaram o presidente da CBF, que representa corrupção e impunidade.
O mais doloroso mesmo foi ouvir um grito de gol de um prédio, a poucos metros da bomba, do spray e do gás. 
Essa indiferença camarada foi o que me machucou mais.

30 de jun. de 2013

Quantos milhões em ação?

O mais doloroso não foi ver o número de manifestantes reduzidos em comparação ao ato na Presidente Vargas com mais de 1 milhão de pessoas.
O mais doloroso não foi ver alguns gritarem "Sem violência!" para os manifestantes e se calarem diante da truculência da Polícia Militar.
O mais doloroso não foi notar pessoas no ato que se mostravam favoráveis ao fim da corrupção (como se alguém não fosse!) e enrolados na bandeira do Brasil, bradavam em tons ufanistas e integralistas a favor da Nação, em um discurso esvaziado e despolitizado.
O mais doloroso não foi refletir e perceber que o dinheiro do contribuinte é revertido também em armas letais e de tortura contra o mesmo indíviduo que cobra na ruas, o cumprimento das obrigações que o Estado tem com o povo.
O mais doloroso não foi pensar que parte daqueles que se mostravam a favor do ato, acenando das janelas e piscando as luzes de suas casas, chamariam os mesmos de vândalos e vagabundos após lerem sobre o assunto no jornal ou vissem  na televisão algo a respeito.
O mais doloroso não foi perceber que a mídia tradicional do Brasil deturpa o número de manifestantes nas passeatas e pouco denuncia as arbitrariedades do Estado e da Polícia.
Tão doloroso quanto, foi ver um rapaz dentro do carro do Corpo de Bombeiros com o queixo ensanguentado após ser atingido por uma bala de borracha.
Tão doloroso quanto, foi visualizar policiais atirando em sequência diversas balas de borracha e soltando bombas de efeito moral no meio da multidão, a esmo.
O mais doloroso não foi saber que um policial do BOPE ria e filmava da caçamba de um carro, o sofrimento das pessoas que estavam ali resistindo.
O mais doloroso não foi saber que os próprios policiais se intoxicavam com o gás lacrimogênio 20% mais potente, comprado por governantes que a essa hora riam em casa da desgraça de todos que estavam ali na Tijuca.    
O mais doloroso não foi chegar em casa e ver que no final do jogo a platéia no estádio gritava: "...é lindo o meu Brasil contagiando e sacudindo essa cidade"
O mais doloroso não foi ver Neymar, Fred, Paulinho e Júlio Cesar abraçarem (e um até beijou!) o presidente da CBF, José Maria Marín, ex-ARENA, acusado de desviar dinheiro público e ser um dos incentivadores da prisão do jornalista Vladimir Herzog, morto em seguida nos porões do DOI-CODI.
O mais doloroso mesmo foi ouvir de um prédio pequeno,
de mais ou menos uns 3 andares,
um grito de gol
de algumas pessoas,
indiferentes a tudo aquilo
que acontecia ali embaixo
na Rua São Francisco Xavier.
Isso camarada,
foi o que mais me machucou.


  

28 de mar. de 2013

O menino que jogava botão

Conversando com um ilustrador de um livro que estou organizando, chamado João Francisco:

- Raphael, já que você falou da sensibilidade desta sua amiga, vou te contar uma história que marcou muito.
- Diga.
- Uma vez estava expondo minhas gravuras aqui na Feira Hippie de Ipanema e percebi que alguém olhava com atenção uma ilustração de um menino jogando botão. Futebol de botão, conhece?
- Claro, jogava muito na minha infância.
- Pois é, o homem ficou admirando a figura por uns 15, 20 minutos. Quando cheguei perto dele, fiquei chocado. Era o Fernando Sabino!
- O escritor?
- Ele mesmo. Pensei em interrompê-lo, mas ele estava tão compenetrado que achei iria atrapalhá-lo. Esperei tanto que ele foi embora. Uns 2 meses depois ele voltou e repetiu a cena. Continuou admirando por um bom tempo o garoto se divertindo com o futebol de botão.
- E você foi falar com ele dessa vez?
- Dessa vez fui. Me apresentei, disse que trabalhava com gravuras desde a juventude. Ele me elogiou, disse que sempre passava pela feira e ia indicar-me à conhecidos. Passou mais uns 3 meses, ele morreu. Acho que estava com um câncer seríssimo. Com a sua visita fresca na minha memória, comecei a ler o jornal que falava sobre o seu falecimento. Nisso, vi a foto de sua lápide. Nela estava escrito:
    " Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino."
 
 

6 de mar. de 2013

Um conto de duas cidades


Água forte cai do céu,
pois agora, ele está por lá.
Duas matérias
não cabem no mesmo lugar.
Se a água cai para dar as plantas
vida
Chávez sobe,
deixando dignidade
para muita gente sofrida.
Oprimida pelos novos colonialistas
viram no Comandante, a sua voz
contra ruralistas
lobbistas
e entreguistas.

Neste momento,
a dor fustiga
os novos 2 milhões de alfabetizados
venezuelanos.
Na Cidade Maravilhosa,
o descaso do governo
faz com que a chuva
nos provoque grandes danos.

Zonasulistas e suburbanos
do militante ao que se diz antipolítico.
Todos.
Obrigados a mudarem de planos.

Os inimigos de Hugo
por aqui, esbravejam
diante desses acontecimentos
e ao procurarem culpados
por seus tormentos efêmeros
dão de cara com um grande espelho.
Desses que de tão transparentes
são difíceis de reparar.
Só o notam quando
sabem que,
inevitavelmente,
seu feudo se afetará.

Amanhã é dia de sol
e tudo volta ao normal
no mundinho de quem se alimenta de inércia
e não "faz a hora" contra
o governo local.

Amanhã é dia de sol
para a mídia global,
que não nos mostra o que foi Ponte Llaguno
e ri do lamento geral.

Amanhã é dia de sol.
Dia eufórico para o capital.
A água que cai no sudeste do continente
são das lágrimas de um país
que beira a América Central.

29 de jan. de 2013

A conversão pode esperar

Mestre,
te faço um pedido
alonga essa bossa,
que não saia da nota,
mas preciso de um tempo
para essa levada
eu incorporar.
Nada contra teus comandos
nem teus venenos.
É que vem
como um sentimento,
o batuque autêntico
que você comanda.

Se trocares de nota
ficarei atento aos teus gestos
para que tua bateria
continue exemplar.
Mas entenda meu lado.
Não sou eu que toco a música.
É a música que me toca.
Então me dê uns segundos
para que gire meu mundo
com o suingue
que ela me proporciona

Essa levada me entorpece
vira minha alma do avesso
faz com que muito apreço
chame alguém para brincar.
Grave ou agudo
Caixa, agogô e surdo!
Venham
com o tamborim, conversar!