6 de nov. de 2012

A simbiose





O cheiro que
incomoda,
impregna
é o do cigarro.
Odor
abjeto
que me tira do sério.

Como podes tú,
com simples movimentos
dos braços ou dos cabelos
gerar aroma tão doce
que ao se confundir
com tais fumaças gris
transforma-se no mais longo sopro da Princesa Primavera?

É confuso
porque sabendo que fumas
meu cérebro já me direciona a ter asco do que está por vir
mas, por sair da tua boca
obrigatoriamente,
gotículas de mel vão de encontro a essa massa de ar cinza.
Desse jeito, a fumaça da cigarrilha
ao chegar nas minhas narinas
se encontra amarela, amarelinha.
E me sinto perplexamente agraciado.

De cinza, nublado
à amarelo ensolarado.
Como podes,tú?

É estranho
pois, é uma sensação de desprazer atraente
Meu olfato ainda percebe o tabaco,
mas ele está envolto pela sua fragrância.
O que me provoca curiosidade
e assim,
busco de forma incessante a origem desses inebriantes ares.

Quando as sereias cantaram:
"Venha para perto!"
Ulisses passou incólume a tentação da hipnótica canção,
por estar amarrado num mastro por seus marinheiros.
Ao te inspirar juntamente com o cigarro,
não quero mais ouvir ninguém dizendo:
"Cuidado! Cuidado! Não estás apressado?"
Entorpecido pela intensidade do seu ser,
jogarei-me de braços abertos
no reinado azul
da sereia que cativa os meus cinco sentidos.