7 de set. de 2013

Dois mundos




Quando deixaram aberta a porta que divide
o mundo literário do real,
aconteceu o surreal!
Milhares de personagens saíram procurando
novidades por todos os cantos.

A cadela Baleia empanturrou-se com a comida desperdiçada nos restaurantes granfinos de Fortaleza.
Um encontro com militantes foi o suficiente para Dorian Gray redefinir seu conceito de beleza.

Robert Langdon decidiu investigar as múmias do Congresso Nacional.
Sofia descobriu a existência de um mundo além da Filosofia ocidental.

Gregor Samsa nunca mais virou barata, pois quando a solidão apertava, o Facebook o salvava.
A Iracema nos museus retratada, não era a mesma removida mensalmente do local onde morava.

Sísifo virou professor e sentiu saudade dos tempos em que empurrava pedra para o alto de um monte.
Os meninos de "O Senhor das Moscas" se viciaram em seriados, e não perdiam um episódio de Lost.

O homem que matou Getúlio Vargas morreu de desgosto ao saber que os maiores assassinos daqui, não o fazem pessoalmente.
A piada mortal dos humoristas do Monty Python fazia Coringa ter dores abdominais, frequentemente.

Casmurro e Capitú vararam à noite lendo o site do RLi.
Holden Caulfield chorava ao ouvir no MP3 uma música famosa de Rita Lee.

Na estrada para África, Sal Paradise viu sua narrativa hipster se transformar em jornalismo denunciativo.
Ulisses não conseguiu emprego de herói, pois seu estilo épico já estava ultrapassado e cansativo.

Somente V não viu a diferença de onde veio para este cenário paralelo.
Não se sabe se pela quantidade de máscaras suas nos protestos
ou se pelo regime ditatorial vivido nos dois universos.

2 de set. de 2013

Vou morar na escuridão para iluminar teu caminho



Carinhoso idoso.
Caridoso.

Multitarefa em tensa idade.
Intensidade.

No leito,
sempre leitor.

Feliz com suas muitas capacidades.
Felicidade.


Veio uma doença que digeria sua condição ativa.
Degenerativa.
Esquecimento.
Eis que cimento.


Venceu a dor.
Vencedor.

Deixou um choro de saudade naqueles em que convivia.
Chovia.

Do alto, refletirá amor, refletor?
Ou poeira estelar viraria,
Po
     es
         ia?