3 de ago. de 2011

Movimentos


“Nesse happening eu chegava de carro e descia com uma pasta de executivo. Eu havia preparado uma parede no fundo da galeria e, por trás dela, tinha deixado uma frase pronta e um recorte fotográfico de dois olhos muito severos olhando para a frente. Eu abria a pasta e tirava uma máquina de furar. Desenhava um ponto a 80cm do chão e escrevia ‘Olhe aqui’. As pessoas se abaixavam e olhavam pelo buraco. Lá dentro estava escrito: ‘O que é que você está fazendo nessa posição ridícula, olhando por um buraquinho, incapaz de olhar à sua volta, alheio a tudo o que está acontecendo?”

Carlos Vergara sobre a inauguração da Galeria G4, na Rua Dias da Rocha, em Copacabana. Abril de 1966.

3 comentários:

  1. Tem uma manifestação do Vergara que é o seguinte: "Todos são obrigados a tomar uma posição. Será possível ficar calado diante de uma realidade onde uns poucos oprimem a muitos? Será possível voltar os olhos enquanto os valores se invertem? (...)" Quando eu li, por acaso fiz um "link" com o Direito e pensei... Nossa, quantas vezes a omissão e o descaso desviam a seguinte finalidade: Justiça?!

    ResponderExcluir
  2. A tradição, seja ela familiar, religiosa ou de qualquer outra espécie, dificulta o afastamento dos desejos pessoais e consequente aproximação do coletivo. Vejo que muitas vezes somos omissos por pena da consequencia de nossos atos em pessoas proximas a nós. Mas será que de certa forma, esta omissão não acaba afetando indiretamente as mesmas pessoas de uma hora para outra?

    ResponderExcluir
  3. Pois é, para você ver, Shopenhauer fala sobre isso: "Para as nossas ações e omissões, não é preciso tomar ninguém como modelo, visto que as situações, as circunstâncias e as relações nunca são as mesmas e porque a diversidade dos caráteres também confere um colorido diverso a cada ação. Desse modo, quando duas pessoas fazem o mesmo, não é o mesmo. Após ponderação madura e raciocínio sério, temos de agir segundo o nosso caráter. Portanto, também em termos práticos, a originalidade é indispensável; caso contrário, o que se faz não combina com o que se é." Me diz: É ou não é perfeito tal posicionamento??? As pessoas, por comodidade, se omitem... É mais fácil repetir o que os outros fazem (ou deixam de fazer). Só esquecem (ou simplesmente ignoram) o fato de que a vida é "cíclica" e que, mais cedo ou mais tarde, sofrerão por isso.

    ResponderExcluir