19 de out. de 2012

O prisioneiro

Estou em regime semi-aberto.
No confinamento
chego cedo e
recebo cumprimentos dos fiscais com um sorriso de canto de boca.
Na refeição, o básico.
Não tenho direito a bebida.
Todavia, os comandantes e seus agregados sempre arranjam, de maneira escusa, um suco ou refrigerante.
Trabalho na prisão embaixo de um sol escaldante.
Daqueles que só o Rio de Janeiro sabe proporcionar.

Ser obrigado a ficar em um mesmo lugar por muito tempo prejudica o meu estado emocional.
Tenho vontade de me mexer,
quero pular, correr
e não mais me manter na "postura adequada" do recinto.
Mas não posso.
Subverter essa demarcação significaria não ganhar os benefícios que amenizam
                                                                                                                 [sussurro...]
                                                                                                                 (mas não cessam!)
os meus sofrimentos,
quando retorno para casa.

Numa sexta-feira à noite, exercendo meu direito de liberdade parcial,
fui para a moradia de minha mãe
que já idosa e visivelmente afetada
com todos os acontecimentos decorrentes
me recebeu com um beijo amargo e desesperançoso.
Acompanhei-a ao seu quarto e vi
uma TV de 29 polegadas com LCD e LED, ligada no famoso jornal das oito horas.
Um apresentador com feições de ator hollywoodiano noticiava que uma rebelião
estava acontecendo, naquele exato momento, na capital financeira do país.
Os presos reivindicavam melhores condições de higiene no presídio e
um tratamento mais digno dos guardas e carcereiros, principalmente nas horas de trabalho forçado.
Parei por um instante e refleti:
"O quão difícil deve ser a vida de um presidiário!" 

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